Primeiro estala nas cordas vocais em forma de grunhidos. Depois se adianta dentro da boca, em direção aos lábios, até encontrar algum destino. Eis a configuração das palavras em sua trajetória de flores desejantes, portanto, se a palavra tem as vestimentas do amor, é capaz de instaurar os ramos do novo tempo; lavar a crosta de fel que atravessa o sangue; acalmar os ruídos da carne machucada e ser bálsamo para as antigas feridas da alma.
Como arqueólogo dos dizeres essenciais, e sem rodeios, Sigmund Freud enfatizou o poder da palavra em transmutar-se no “bem indizível” porque arranca o homem das tormentas seculares. E quando a palavra torna-se luz matinal, límpida e transparente, se constela em Histórias. Reluz, porque é voo rasante nos terreiros onde transita o ódio.
E foi com o estandarte das palavras generosas que o IBCP organizou, em julho de 2017, o IX simpósio.
Tendo como tema a importância dos Contos de fadas, o Instituto reuniu os sete homens, que constelados em nome do cálice dourado, requisitaram os modos da luz para interpretar o esconderijo das histórias e adentrar o labirinto das narrativas, como quem ergue um tesouro de gardênias*, para distribuí-las altivas entre os escombros do mundo.
Durante três dias, o simpósio reluziu narrativas de valor curativo; partilha de saberes maduros que tornaram a contação das histórias uma vivência de cores alegres (para olhos fatigados).
Com esse banquete de palavras , o IBCP desnudou narrativas engraçadas e tristes; dramáticas e humoradas; trágicas e heroicas, porém, como cânticos imprescindíveis, nesse tempo esgarçado pelas ambições destrutivas.
Com esse banquete de relatos, o IBCP compartilhou palavras, todas bem ditas. E como o mundo é de desvarios, em que a profusão de vozes sinistras se entrelaça na produção das doenças, fica a certeza do próximo simpósio (qual será o tema?). Afinal, a palavra é como um catálogo de luz ao permitir que a seiva dos jasmins adentre o nó cego da vida.
Mario Cezar Queiroz
Psicanalista e psicoembriólogo
*flores preferidas de Freud