Nise da Silveira

por Cristina Costa

Nascida em Maceió, em 1905, Nise da Silveira tornou-se médica psiquiatra pela Faculdade de Medicina de Salvador, uma das poucas mulheres, nessa época, a se tornar médica. Casou-se com o sanitarista Mário Magalhães Silveira e mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1944, após um ano e meio de prisão política, começa a trabalhar no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, onde fundou a seção de Terapia Ocupacional, defendendo métodos terapêuticos não agressivos diferentes da lobotomia e do eletrochoque. O caminho que percorreu da psiquiatria à psicologia foi bastante intrincado e teve início com os trabalhos colaborativos com seu professor Antônio Austragésilo, nos quais estudou as diferentes linguagens do ser humano. Nessa época, em seus primeiros trabalhos escritos e publicados, já ressaltava a grande importância da linguagem imagética. Dando continuidade a seu trabalho, opôs-se radicalmente ao uso de métodos agressivos de tratamento dos esquizofrênicos e se propôs a iniciar uma nova forma de abordagem baseada na arte e na cultura. Em 1946, começa a promover a Terapia Ocupacional com ateliês de pintura e escultura, cujo resultado foi uma  produção  vasta  e diferenciada, que causou tanto espanto aos psiquiatras como aos críticos de arte.

Em 1949, apresentou esses trabalhos em uma exposição intitulada “Nove Artistas do Engenho de Dentro”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. O seu trabalho repercutia para além do hospital e entusiasmava o público. Foi dessa forma que Nise da Silveira participou de tendências artísticas não formais no Brasil e no exterior, assim como na renovação de tratamentos psiquiátricos ultrapassados. Teve o apoio de diversos colegas, historiadores e críticos, como o psiquiatra Osório Cesar, do Hospital Psiquiátrico do Juquery, em São Paulo, com quem Nise manteve extensa correspondência. Mario Pedrosa, crítico e filósofo, também acompanhou a produção dos ateliês de Engenho de Dentro.

No hospital, mantinha ateliês de marcenaria, cestaria e costura; pintura modelagem e entalhe; assim como atividades recreativas que incluíam jogos, cinema, rádio e esportes. Além da intensa prática nos ateliês, Nise procurou dar consistência teórica a seu trabalho através de uma visão ao mesmo tempo ética e estética. Em todas essas atividades, tinha como objetivos a livre expressão, a valorização do trabalho enquanto tal e a prioridade da afetividade sobre a razão.

Em 1952, Nise funda o Museu de Imagens do Inconsciente no Rio de janeiro, que teve como acervo a produção diária de seus pacientes. Fundou também o serviço de Egressos, no campo das Palmeiras, na mesma cidade, frequentado por pacientes em regime de externato. Por outro lado, aproxima-se de Carl Gustav Jung com quem troca correspondências e trabalha ativamente. Foi responsável pela formação do Grupo de Estudos Carl Gustav Jung, presidido por ela desde 1968.

Amante dos animais, tais como cães e gatos, que foram introduzidos em seus tratamentos, conhecedora de autores e literatos, essa cientista deixou um legado importante que não poderia ser esquecido nesse número da Revis- ta IBCP Psicanálise em Foco, que trata da qualidade de vida. Profundamente humanista, acreditando na cultura e na arte como poderosas ferramentas de equilíbrio emocional e psíquico, ela abriu uma trilha, da qual todos nós, psicanalistas, artistas e público em geral nos orgulhamos. Consequência de toda essa dedicação foi a proposta de um projeto de lei, de 2019, que propunha a inscrição do seu nome no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

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