por Adriana Gallo | Psicanalista
A recente pandemia causada pelo novo Coronavírus (SARS-COV-2), que causa a COVID-19, obrigou-nos a aderir a práticas cotidianas determinadas pelos órgãos de saúde mundiais. Passamos a ter mais cuidado com a higiene, posteriormente, aderir ao confinamento social e, outra determinação, a utilização de máscaras, visando proteger a todos de um possível contágio.
Andamos nas ruas com o rosto coberto sendo que a única parte visível nesta situação, são os nossos olhos, estes que desde o início, sempre foram uma conexão fundamental, como por exemplo na relação da mãe com o seu bebê. Pelos olhos, também, saem as mágoas, as nossas “más águas”, na forma de lágrimas que quando esvaziadas e drenadas, aliviam pressões e dores.
Assim, como seria uma sessão psicanalítica “protegida” por máscaras? Os olhos não articulam palavras, mas eles expressam o ser, no mais profundo silêncio e a máscara, dificulta as outras percepções em relação ao rosto e as expressões dos pacientes.
Na clínica Psicanalítica, utilizamos a palavra, a leitura dos gestos e a postura corporal, para “escutar” o paciente, até mesmo através da observação do silêncio que ele nos traz.
Neste novo cenário, nossa compreensão acerca da escuta analítica ganha espaço para se expandir e o olhar passa a ser de fundamental importância para ambos: paciente e psicanalista
Será verdade que os olhos não mentem? Quantas vezes olhamos e não enxergamos?
Hoje, mais do que nunca, faz parte do papel do analista poder mostrar ao paciente, eventuais cegueiras na sua visão sobre seus problemas e os seus potenciais a serem descobertos.