A história da Psicanálise

por Valmi Oliveira | Psicanalista

A história da Psicanálise

A Psicanálise foi criada por Sigmund Freud, que nasceu em 06 de maio de 1856 em Freiberg – Morávia – Império Austríaco (hoje Príbor – República Tcheca).  Seus pais, Jacob Freud e Amália Nathansohn, eram de origem judaica.  Aos três anos de idade, muda-se com a família para Viena, onde forma-se em medicina, porém logo se enveredando para o estudo da mente humana. 

Movido por seu interesse em entender a alma humana, Freud conhece o médico francês Jean-Matin Charcot em 1885, quando foi a Paris financiado pela Universidade de Viena. Charcot era conhecido na época por tratar as pacientes histéricas utilizando-se da técnica da hipnose e isso teve um grande impacto sobre Freud que não teve dúvida em afirmar (a respeito dele) que Charcot: “é um dos maiores médicos, um gênio e um homem sério, abala profundamente minhas ideias e intenções. Depois de algumas conferências saio como se fosse de Notre Dame, com uma nova percepção de perfeição”. 

 No entanto, o primeiro passo para o surgimento da Psicanálise na década de 1890 acontece quando Freud, ao trabalhar juntamente com o médico Josef Breuer, verifica “que as expectativas terapêuticas que havíamos depositado no tratamento catártico em estado hipnótico não chegavam a cumprir-se inteiramente”. A partir dessa constatação, Freud decide abandonar essa forma de tratamento das neuroses e dá início aos pilares da técnica da psicanálise ao introduzir, na forma de tratamento, a associação livre por parte do paciente, quando este é instruído a falar livremente tudo que lhe vier à mente e o analista deve manter sua atenção flutuante, para que possa conectar o seu inconsciente ao inconsciente do paciente.

A primeira vez que Freud vai usar o termo Psicanálise é em 1896 em um texto intitulado A hereditariedade e a etiologia das neuroses quando afirma: “Devo meus resultados a um novo método de psicanálise, o procedimento exploratório de Josef Breuer; é um pouco intricado, mas insubstituível, tal a fertilidade que tem demonstrado para lançar luz sobre os obscuros caminhos da ideação inconsciente.” Ao iluminar a vida inconsciente, Freud vê que por trás dos sintomas histéricos há sempre um evento da vida sexual do sujeito.

Um evento fundamental para a história da psicanálise acontece em 21 de setembro de 1897, quando Freud diz em uma carta dirigida ao seu amigo Wilhelm Fliess: “Não acredito mais em minha neurótica”. Ou seja, na Teoria da Sedução, onde afirmava que a neurose teria por origem um abuso sexual real. Segundo Peter Gay, o que fez Freud abandonar essa teoria foi o fato dele não conseguir completar nenhuma de suas análises; em todos os casos, o pai, sem excluir o dele, teria de ser acusado de perversão, e por fim, não há marcas de realidade no inconsciente. Porém, ao rejeitar a teoria da sedução como uma explicação geral da origem das neuroses, Freud descobriu a teoria da sedução pela fantasia.

Com a publicação dos livros: A Interpretação dos Sonhos (1900), Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901), Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905) e Os Chistes e sua Relação com o Inconsciente (1905), Freud lança as bases da clínica e da teoria que fundamenta a psicanálise até os dias atuais. Agora, o próximo passo era assegurar para a psicanálise um lugar no mundo das ciências e organizar aqueles que compartilhavam com Freud as mesmas ideias, pois muitos eram aqueles que detratavam e combatiam ferozmente a psicanálise. Agora, porém, Freud não estava sozinho. Ao seu lado estavam: Otto Rank, Max Graf, Max Eitingon, Karl Abraham, Ernest Jones, Sándor Ferenczi, Oskar Pfister, Lou Andreas Salomé e C.G. Jung. No entanto, Jung que, nas palavras de Freud, seria o príncipe herdeiro da psicanálise, é o primeiro a abandonar as suas fileiras.

A Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, que surgiu no outono de 1902, foi o primeiro grupo de psicanalistas que se reunia em torno de Freud na Berggasse 19, famoso endereço vienense em que Freud viveu com sua família, com o intuito de aprender, praticar e divulgar a psicanálise. Com o passar do tempo, foram criadas várias associações psicanalíticas em vários países com o apoio da IPA (Associação Internacional de Psicanálise) e vários congressos foram realizados para se discutir sobre teoria e técnica psicanalítica. Também foram criadas editoras com diversos tipos de publicações.

A segunda década do século XX é marcada pelo início da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), afetando milhões de pessoas em toda Europa e também ao redor do mundo. Atravessar a Primeira Grande Guerra não foi tarefa fácil para ninguém, tampouco para Freud. Porém, Freud sobreviveu a esse período com muita serenidade e produção teórica. Os pacientes desapareceram do seu consultório, filhos e amigos foram para o front de batalha e um ócio imposto pelas condições da época proporcionou-lhe tempo para produzir teoria psicanalítica. E nesse contexto surgem textos sobre: a pulsão, o narcisismo, o inconsciente, o luto e a melancolia.  

Durante a década de 1920 a psicanálise alcança fama e popularidade. No entanto, fama, aprovação pública, depreciação e caricatura de Freud seriam, a partir de agora, temas comuns a serem tratados por Freud e por aqueles que praticavam a psicanálise. Vale destacar também, que nessa época, Berlim passa a ser o lugar onde todos os psicanalistas queriam estar, inclusive Melanie Klein, que viria ter grande importância no movimento psicanalítico.

Dentro e fora do movimento psicanalítico Freud travou um importante debate sobre a análise leiga. Em 1926 Freud escreve um texto intitulado “A Questão da Análise Leiga” mostrando que o tribunal de Viena julgou se um importante psicanalista chamado Theodor Reik poderia praticar a psicanálise, já que este não era médico. Reik ganhou a causa e continuou praticando a psicanálise. Porém, dentro do movimento esse assunto não estava bem resolvido, já que vários psicanalistas, principalmente dos Estados Unidos, eram contrários a pessoas que não formadas em medicina pudessem praticar a psicanálise.  Depois de muita insistência por parte dos psicanalistas europeus e principalmente de Freud, as Associações Psicanalíticas dos Estados Unidos começaram a ceder e passaram a aceitar psicanalistas leigos, ou seja, aqueles que não eram formados em medicina.

Na década de 1930 a psicanálise ganha o mundo, inclusive o Brasil, que em 1937 recebe Adelheid Lucy Koch (Berlim, 16 de outubro de 1896 – São Paulo, 29 de julho de 1980) como sua primeira psicanalista didata. A partir desse momento o Brasil entra de vez no universo da análise clínica e também da criação de Institutos e Sociedades Psicanalíticas.

Freud, que começou como médico neurologista, ao entrar em contato com pacientes que sofriam de histeria, ao tentar de alguma forma amenizar e entender as causas dessa doença, acaba por descobrir o inconsciente, dando assim o primeiro passo em direção à psicanálise. Do final do século XIX até meados do século XX, Freud dedicou sua vida, pagando caro pela descoberta da psicanálise, a construir os pilares dessa nova ciência que se fundamenta nos processos mentais inconscientes, na teoria da resistência e da repressão, na teoria da sexualidade e do complexo de Édipo, bem como, na teoria das pulsões, na repetição e na análise de transferência.

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