A Terceira Dor

por Wilson Garcia / Psicanalista

Um assunto sério, intenso, que deve ser olhado.

Quando um casal decide se separar, normalmente existe uma dor por parte de ambos, acompanhada de um turbilhão de emoções e sentimentos distintos. Na maioria dos casos, uma terceira dor é esquecida: a da criança que é filho(a) desse casal, que vive a tensa situação e, não raro, guarda calada tão marcante experiência em seu viver.

Geralmente, até a decisão por se separar, há um período de desgaste, brigas, tristezas, mágoas; muitas vezes, ofensas e discussões acaloradas. Enfim, o lar torna-se um ambiente pesado e denso.

É natural que nessa experiência exista, portanto, de alguma forma, dor por parte do marido e da mulher, sem entrar no mérito de quem está certo ou errado. Afinal de contas, é fato que ninguém nunca está completamente certo ou completamente errado dentro de uma relação de convivência.

E ali também se encontra a criança, que escuta esta separação nos bastidores das dores cotidianas de seu pai e de sua mãe. De maneira sorrateira, brota também nela uma dor, afinal, ela sente e percebe que as duas pessoas mais importantes de sua vida estão em algum tipo de divergência grave.

Não raro, o momento da separação é o auge das dores, e é comum que o casal mal se fale, ou fale mal do outro quando estão longe, em desabafos com familiares e amigos, que a criança escuta entre portas semiabertas e paredes. É doído: ela escuta um dos dois grandes amores de sua vida falando mal do outro.

E também, é comum que os adultos no entorno tenham uma fantasia de que a criança está protegida ou alheia a tudo isso. Após a separação, em batalhas sobre pensão, as discussões clamam por questões financeiras, guarda, e “preservar os filhos”.

É nessa hora que a criança recebe uma outra mensagem: agora os dois brigam por causa dela, em função dela: pensão, pagamento de escola, convênio, vestimentas, medicamento, final de semana, dia de visita, etc.

É natural, e até esperado, que essa criança absorva a culpa pela separação dos pais, afinal, ela está no centro das discussões deles. Nesse ambiente hostil, em que o pai fala mal da mãe, e a mãe fala mal do pai, seus ouvidos estão atentos.

E a sua dor vai se intensificando, a ansiedade vai se instalando. É uma dor silenciosa, dentro de uma solidão. É raro que uma criança declare essa dor; ela sente, mas não entende o que é isso. Ela dá o sinal, mas muitas vezes os pais relutam em ver.

Uma separação de casal é coisa séria. Mas, quando existem crianças dentro desta família é muito mais sério.

O adulto não deve se distanciar da realidade aqui apresentada, pois são questões que exercem um profundo impacto na vida da criança e consequências, muitas vezes só percebidas na vida adulta.

A terceira dor deve ser olhada pelos pais num ato de amor e respeito por alguém que foi semeado em uma explosão de sentimentos e de desejos de ambos.

O QUE ACHOU DA POSTAGEM?

    últimas postagens

    A Fronteira Final da Terapia: Integrando Biodinâmica na Cura

    por Equipe IBCP
    A Integração Corpo-Mente. Historicamente, a prática da psicoterapia tem sido dominada por abordagens que focam primariamente na mente e nos processos cognitivos, muitas vezes negligenciando o papel fundamental que o corpo desempenha na saúde mental. Contudo, o surgimento da Psicanálise e, mais recentemente, da Biodinâmica, destacou a inextricável ligação entre o físico e o psíquico. […]
    Leia mais+

    Os fatores que influenciam a saúde mental

    por Anderson R Vieira - Psicanalista
    Diversos fatores podem influenciar a saúde mental, os principais são: a genética, os fatores biológicos, os psicológicos, os fatores ambientais e sociais. A seguir vamos abordar cada um deles e como podem impactar na saúde mental. Atualmente, existem diversos estudos que sugerem que os fatores genéticos podem desempenhar um papel no desenvolvimento de alguns transtornos […]
    Leia mais+
    LEIA TODAS AS POSTAGENS
    plugins premium WordPress