A vida e seus dualismos

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por Márcio Ferreira | Psicanalista

O dualismo está presente no cotidiano do ser humano e pode ser um fator de impedimento ao progresso. Neste caso, apesar de intenso movimento e esforço, “o vai e volta das ações” geram uma estagnação. É como estar preso num labirinto, onde se exaurem as forças e energias sem muitas vezes se chegar ao objetivo. Mas por que isto acontece? Como podemos simplesmente progredir? O dualismo faz você girar e não caminhar para a frente, pois dizer SIM, é, na verdade dizer NÃO. Dizer NÃO é estar com medo do SIM.

 A cultura latina traz em sua linguagem a clássica expressão “mais ou menos”. Frequentemente, perguntas são respondidas com esta expressão e naturalmente também se assume a posição de “mais ou menos” perante a vida. Popularmente seria: “ficar em cima do muro”, o que significaria estar em dois lados ao mesmo tempo, ou em nenhum deles. É impossível se estar em dois lugares ao mesmo tempo. Só se vivencia a vida estando, por completo, num mesmo lugar.

É difícil saber se a expressão “mais ou menos” quer dizer SIM ou NÃO. Como exemplo temos a atividade saber nadar. “Você sabe nadar? ” Se SIM, você poderia atravessar um rio. Se NÃO, logicamente não atravessaria. Se MAIS ou MENOS, como seria esta travessia? Poderia morrer talvez ou sair em uma jornada sem nunca chegar ao fim, nem regressar ao início, e quais sentimentos isto geraria?

Esse dilema acontece em várias situações da vida. Quando se gasta tempo indo à escola, mas na verdade não está estudando e nem aprendendo, quando se vai ao trabalho, mas não se produz, ou em algum planejamento pessoal nunca acabado e infundado em sofrimento. Todas estas travessias intermináveis são cheias de frustrações e angústias, e o fator determinante é a indefinição das escolhas e ações tomadas durante o trajeto, perfazendo das experiências vividas uma vida mais ou menos. Ao querer se saber de tudo, acaba-se por não se saber do nada, o que culmina numa cascata de insucessos e sentimentos ruins

Uma das maiores satisfações vivenciadas é a conquista de objetivos traçados; este momento é extremamente prazeroso e cheio de emoção. Todavia tal conquista depende unicamente do caminho escolhido e da persistência em se manter o foco. A grande dificuldade em se fazer uma escolha não está, propriamente, na escolha e sim, em abandonar os benefícios e facilidades no caminho não escolhido ou de fase ultrapassada. E quando as dificuldades do caminho novo não aparecem, as oscilações podem vir e retroceder na etapa da decisão. Desta maneira fica-se em conflito o tempo todo, e os dias se alternam entre passos para frente e para trás. Estas repetições perfazem um eterno dualismo.

 A postura perante SIM e NÃO é o que determina o quanto o caminho escolhido é desviado. Quando se define objetivos a serem buscados, deve-se seguir forte e determinado sem se olhar para trás, para as intempéries e falhas que apareçam no caminho que são apenas sinais, a fim de que ocorram adequações, que são ricos ensinamentos para que se chegue ao fim. As dificuldades e falhas podem gerar medo, sofrimento e dúvida, fazendo com que as pessoas busquem pequenas satisfações em outros caminhos, saindo do foco e buscando atalhos sem saída. Isto suaviza os obstáculos, porém não os transpõem, gerando um pequeno prazer, entretanto ilusório, que pode causar uma permanente insatisfação e uma busca  por incansáveis fugas para se amenizar a pressão.

 Conquistar o objetivo é um grande prazer e uma explosão de sentimentos, renovando a energia e o sentido de viver. Então os obstáculos e erros devem ser exagerados como um sinal, um presente, pois nele está o degrau e a resposta da solução. Talvez por vaidade, talvez por medo, foge-se do caminho que levaria ao encontro desse objetivo. As ações do dia a dia estão cheias de dualismos e labirintos, que se opta por não os enxergar, pois continuar sofrendo uma dor que já é conhecida, sem sair do lugar, tem muito menos risco e incômodo do que aceitar a realidade e as dificuldades como um fator de crescimento e mudança.

É preciso estar forte e ter coragem para seguir os caminhos e vontades que nos alimentam, e sabermos lidar que todas as frustrações são pontos cruciais. Viver plenamente o caminho escolhido nos levará passos à frente e trará experiências e conquistas inimagináveis.

O mais ou menos (SIM e NÃO) é muito presente em nossa cultura. Mas onde será que isto está presente em nossas vidas? Como escolhermos SIM que é SIM e NÃO que é NÃO? Estas respostas são simples, todavia difíceis de serem encontradas dentro de cada um. A Psicanálise poderá levar a pessoa a acessar estas respostas e permitir uma melhor escolha, onde o abandono dos mimos e as facilidades deveriam ser bem mais fáceis, que desistir do crescimento e sucesso.                                                                                                 

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