A vida está do lado de fora da “zona de conforto”

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por Márcio Ferreira | Psicanalista

A palavra “conforto” descreve o bem-estar ambiental ou emocional de um ser. A busca por este “conforto” é uma característica da natureza humana e é um dos objetivos que vem sendo seguido por gerações há milhões de anos; mas quando idealizamos uma permanência no estado “zona de conforto” pode ser um fator impeditivo para o crescimento pessoal.

É importante, após uma execução completa de um trabalho ou em momentos de estresse, termos “conforto” para recarregar as energias, isto celebra a vida e nos prepara para mais um momento de esforço.  Um almoço em família, um passeio agradável, um dia de folga são tão importantes quanto as horas de trabalho ou de esforço para a conquista do objetivo. 

Pode-se fazer uma analogia ao se respirar profundamente após uma corrida curta e intensa. O organismo precisa de todas as energias para o momento de força e estresse, a fim de que se consiga executar um bom trabalho. Depois, este organismo relaxa, colocando ordem em todas as alterações metabólicas, trazendo equilíbrio e “conforto” para ele.

Nossos ancestrais fugiam de leões, atacavam alces, levantavam grandes pedras, e destas corridas em prol da vida, pois a morte era um fator eminente, o cérebro liberava adrenalina e preparava o organismo para um grande esforço, muitas vezes trabalhos que nós hoje não estamos familiarizados. Neste esforço, há uma mudança hormonal e metabólica, generalizada e rápida, desligando alguns órgãos e super potencializando outros como o cérebro, o coração e os músculos, provocando altos batimentos cardíacos e superaquecimento corporal.

É preciso performar um trabalho eficiente e de excelência, pois o organismo não consegue se manter assim por tempo prolongado. Com o término deste tempo, o organismo precisa voltar para a “zona de conforto” trazendo a temperatura corpórea a níveis aceitáveis e ajustando o metabolismo. A partir deste momento, a serotonina e a dopamina se espalham no corpo, promovendo sensações boas e prazerosas. Um alívio, uma alegria, mais um impulso de vida, seja adquirindo o alimento, seja com uma vitória, é hora de celebrar a conquista.

O útero materno é uma grande “zona de conforto” e é experimentado pela presença de muitos fatores percebidos como a calma, o equilíbrio e a segurança. Mas ao atingir certo tamanho e idade, o desconforto motiva o bebê a romper as barreiras de um mundo conhecido em direção ao desconhecido com uma enorme força de vida, gerando crescimento.

 Num cenário atual, o desconforto desde sempre está em nosso cotidiano, promovendo mais vida, sendo uma poderosa força motriz para soluções de problemas e gerador de ações inovadoras, cheias de criatividade e coragem, porém é necessário romper o “conforto” local seguro e familiar, para gerar crescimento pessoal e social.

Estar continuamente na “zona de conforto”, faz com que estejamos num estado contínuo de satisfação e segurança, cujos prazeres ficam sem força e sentido. Simbolicamente, é como se estivéssemos à procura do estado gestacional mesmo em outra fase. Podemos dizer que esta é uma característica humana, ficar parado no mesmo lugar o maior tempo possível, permanecendo   praticamente imóvel, pois parece mais seguro de alguma forma, e caso estejamos em sofrimento, pelo menos é uma dor familiar. Ao mudarmos esta situação, ao sair da caixa, fazemos algo inesperado, romper uma barreira pode ser que outras dores estejam lá nos esperando e as chances seriam ainda piores, mantendo desta forma o status quo.

Escolhendo uma estrada já viajada, e isso não parece tão ruim, pode se tornar um vício que pouco a pouco nos domina e vai nos matando, nem que seja somente internamente, como um veneno administrado diariamente em pequenas doses. Mas quando finalmente mudamos e percebemos que o desconforto é uma mola para a descoberta de novos mundos e horizontes, e que a cada término de um ciclo existe uma porta para uma oportunidade, ajustamos esta característica da humanidade de “conforto” e como trampolim somos impulsionados para uma vida cheia de conquistas gratificantes. O processo psicanalítico nos faz olhar para a “zona de conforto”, trazendo um desconforto de mexer em histórias e estados estabelecidos, que há anos estão na iminência de mudança, mas de alguma forma sempre se mantêm. A ferramenta Psicanálise pode nos auxiliar no processo de autoconhecimento, para que haja uma escolha de mudança para se atingir o que buscamos.

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