Adolescência: o segundo nascimento

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por Dolores Araújo | Psicanalista e Psicoembrióloga

Adolescer é quando a pessoa, aos poucos, deixa de ser criança e vai se construindo e se transformando em adulto. É um processo que em algumas sociedades se dá por meio de ritos de passagens que demarcam o momento em que o jovem está apto a ser inserido no universo dos mais velhos com todas as responsabilidades que o novo status exige. Tomamos como exemplo os adolescentes meninos da tribo Sateré Mawé, no Amazonas, que para serem aceitos no mundo dos adultos devem calçar luvas recheadas com dezenas de tocandiras – uma das maiores formigas do mundo, cuja dor da picada é comparável a um tiro de revólver – e dançar por dez minutos sem gritar, sem chorar e sem reclamar.

Em nossa sociedade, a adolescência tem início perto dos onze anos e a transformação se dá de forma lenta e retardatária, podendo passar de uma década. O fato é que boa parte desta fase, o jovem vive uma situação de absoluta dependência financeira de seus pais, de certa forma também podem ficar dependentes de seus filhos para não vivenciarem a ausência deles.

Além das visíveis mudanças físicas, ocorrem as transformações psíquicas que se desdobram e podem gerar inquietações e conflitos.

O adolescente se depara com descobertas incríveis e experimenta, quase que instantaneamente, um turbilhão de sensações e sentimentos intensos. Essa é uma fase que para alguns é mais tranquila, enquanto que para outros pode ser um pouco mais conturbada; podendo gerar conflitos internos, rebeldia, contestações, ações e sentimentos que muitas vezes contradizem ao que realmente sentem, isto é, quando demonstram a raiva e o ódio que sentem dos pais, pois ele está verdadeiramente, tentando ocultar o grande amor, admiração e a inveja que a sua criança interior nutre por eles. Nesse período, os ídolos são eleitos baseado em valores que, em geral, confrontam os valores recebidos no ambiente familiar.

Nesta fase de transição e mudanças, assim como durante a gestação e a infância, o olhar e a palavra, especialmente dos pais, são fundamentais para que esse jovem se sinta acolhido e fortalecido para prosseguir na sua jornada.

O jovem vai abandonando seu corpo infantil e percebendo que a sua relação com a família também vai se modificando. Este processo é necessário para que, de fato, o adulto se constitua.

Nascer, crescer e amadurecer implicam em desafios e conquistas, que para serem alcançados demanda a força e a energia vivas e que pulsam internamente, uma força que jamais se perderá dentro de cada um, e será ela que impulsionará o indivíduo rumo às suas realizações na vida adulta.

Nesta travessia, de uma fase para outra, a Psicanálise se coloca como ferramenta importante para pais e filhos, no sentido de auxiliá-los a descortinar e trabalhar conteúdos que estão inconscientes e ativos. Aos pais é colocada a possibilidade de olhar para sua criança interior, que traz registros e crenças, a fim de que algumas experiências vivenciadas no passado possam ser trabalhadas e ressignificadas. O tratamento psicanalítico dos pais é um caminho importante a ser trilhado, visando o autoconhecimento e, consequentemente, abrindo possibilidades para entender e contribuir no processo pelo qual passa o filho adolescente.

Com relação ao jovem, o psicanalista atuará como o facilitador que ouve e cria condições para que esses turbilhões de sensações e sentimentos, assim como as transformações físicas e biológicas, sejam expressas e acolhidas. Desta forma o adolescente vai gestando a si próprio, resguardando a sua criança e permitindo que o ser maduro germine e se constitua pleno e saudável física e psiquicamente.

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