Contos de Fada

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O SENHOR REI MANDOU DIZER QUE…

…somos moradores de uma floresta obscura, cujo enredo tem enigmas, fantasmas e diversas alucinações. Debaixo das árvores apresenta-se uma multidão de personagens em estado permanente de guerra. Cada personagem, uma sentença. Somos ao mesmo tempo Chapeuzinho Vermelho e o Lobo arreganhando os dentes; o sonho da Cinderela e a Feiticeira em trajes de fogo; a meiguice de Branca de Neve e o vestuário da Maga Patalógica; somos Gregos e Troianos. E nessa Terra de uivos e ganidos, normalmente o mastro da bandeira tem dizeres de guerra, pois entre as raízes do pé de feijão viceja o agouro dos Espantalhos, aqueles que escrevem a lógica dos acordos espúrios. Eis porque nossas conversas são retorcidas, como galhos secos em época de seca.
A pauta comum a todos é feita com alaridos da fantasia, essa verdade de cabeça para baixo, assunto tratado com vigor pelo MESTRE DE VIENA, que mostrou nossos gremlins brotando de todos os lados como regentes da maldade, tudo em perfeita ressonância com o congresso das bruxas. E não adianta insinuar que os contornos da maldade subsistem apenas no castelo alheio, retorcidas, como galhos secos.


São nossos velhos conhecidos com trajes pomposos do ódio, vagando para cima e para baixo, pois estão no labirinto onde traçamos os mapas da assombração, e em nossos pergaminhos de letreiros vistosos Barba Azul, que dizem ser o guardião das esposas degoladas e que o Capitão Gancho, timoneiro das sombras, o condutor de um barco à deriva.
Nossa morada é a Terra-do-Nunca, onde Peter Pan se satisfaz com o idioma da regressão? Até quando vamos deletar as dádivas do Sol, para referendar o congresso do medo? Não é simples atravessar o escuro da mata, onde o rugir dos fantasmas está no encalço, feito sombra possessiva. Toda travessia requer coragem, portanto é possível ir além da demarcação da floresta e sair do esconde-esconde. Para tal empreitada, urge sacudir o pó da estrada; arrancar, uma a uma, as traças da armadura e seguir em frente, montado em um alazão. Andar é preciso, eis porque os Sete Cabritinhos chegaram seguros às margens do riacho cristalino.


E justamente para clarear o lado obscuro da floresta, torna-se imprescindível aquela narrativa onde o amor predomina sobre os arautos da maldade; onde palavras são folhas na relva, à disposição do pequeno andarilho que teme a chegada do Dragão. Por isso as crianças, detentoras das varinhas–de-condão cultivam, com tanto ardor, a atmosfera mágica dos CONTOS DE FADAS. Narrativas, onde estão presentes de modo transbordantes, os referenciais de justiça, tão escassos nos dias atuais.
Para as crianças, os CONTOS DE FADAS são bússolas que apontam novas trilhas; é a nascente de um rio luminoso, pleno, capaz de ajudar nessa longa travessia, afinal, a angústia do despedaçamento é o elemento primordial que estampa os modos do sofrimento. Eis os ensinamentos de João e Maria quando suportaram a vertigem do abandono e na grandeza dos corações irmanados foram capazes de enfrentar, sob o uivo dos lobos e o pio das corujas, os engodos da Feiticeira.


O conteúdo que baila nas entrelinhas dos CONTOS DE FADAS torna a criança merecedora do sol radiante, visto que são histórias curativas como as lágrimas de Rapunzel, que caminhou sobre as areias escaldantes do deserto, para reerguer o olhar do príncipe. E quando essa narrativa transita no coração das crianças, o montante dos medos rotineiros se desfaz. Essa é a grande contribuição dos CONTOS DE FADAS (e seus lastros de amor), porque prevalece a retidão dos valores e a certeza de que o trabalho é um empreendimento digno.
Se o inconsciente é o emaranhado onde mora o nosso desejo, que a Bela e a Fera ultrapassem a solidão mortífera do penhasco e digam SIM à regência da vida. Onde era o caldeirão de água fervente da Bruxa, que seja a sinfônica do amor; onde era o desejo incestuoso, que seja a honra, em nome do pai; onde era o desgosto, que seja o valor de histórias reluzentes.
O SENHOR REI MANDOU DIZER QUE estamos adiando, demais, duas coisas: o encontro com as flores e a chama da vida e que está na hora de sair da TERRA-DO-FAZ-DE-CONTA.

 

Mario Cezar Queiroz

Psicanalista e Psicoembriólogo

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