A criatividade no atendimento infantil on-line

por Sonia Paschoalique | Psicanalista e

A criatividade no atendimento infantil on-line

Considerando que criatividade é ação pura, no momento da concepção tanto o óvulo quanto o espermatozoide carregam a Herança Informativa daqueles que vieram antes, o que faz da criatividade uma capacidade  inerente no ser humano e perpetuada  através das gerações.

Winnicott escreveu que “para ser criativa a pessoa tem que existir” e tendo em vista que o Homem existe desde que os hominídeos desceram das árvores em busca de novos alimentos e ambientes, a existência humana tem demonstrado através dos tempos, a potência da criatividade e seu poder transformador.

No entanto, bloqueios com maior ou menor intensidade são possíveis de acontecer, uma vez que o desenvolvimento da criatividade depende da interação do indivíduo com o meio-ambiente em que vive, sendo a família e seus hábitos, leis e crenças, a fonte raiz dos bloqueios da ação: os traumas infantis.

Existem várias questões que concorrem com o fato de que a clínica de psicanálise infantil on-line, requer bem mais criatividade do profissional do que no modo presencial, isto é, requer bem mais da criança interior do profissional para adequar jogos e brincadeiras via internet, por isso a importância da disponibilidade interna dele.

No modo presencial, a observação da oferta de material escolhido pela criança, é diferente do modo on-line, uma vez que o profissional terá que criar situações usando apenas o que a criança dispõe na casa dela. Ele poderá sim, garantir alguns materiais previamente combinados com os pais, como papel, cola, lápis, tesoura sem ponta, giz de cera, massinha de modelar, argila e outros, claro que de acordo com a situação financeira da família e da solicitude dela em  colaborar com o local e os recursos necessários para a sessão.

Porém, como a interpretação da ação psíquica na maneira de uso desses materiais é sigilosa, terá momentos em que a mãe, por exemplo, deverá estar junto e momentos em que a criança deverá estar sozinha, evitando assim a possibilidade de obstáculos na criatividade dela. No momento de contar uma história ou fazer um desenho por exemplo, o paciente poderá ficar inibido se o adulto estiver ao lado dele, mas em um teatrinho de fantoches, o personagem que o paciente estiver atuando, talvez se expresse independente se a mãe também atuar como um  elemento da história. Tudo vai depender da criatividade do profissional na interação com a criança/família/brincadeira.

Vários jogos usados no modo presencial podem também ser adaptados no modo on-line. Winnicott, como pediatra e psicanalista que era, usava o Jogo do Rabisco para “ouvir” o paciente. Enquanto atendia, fazia um rabisco no papel e pedia para a criança continuar ou nomear o desenho que surgia daqueles rabiscos. Dessa forma, ele procurava compreender o que o paciente estava expressando com aquela ação.

Já no modo on-line, o profissional poderá adequar pedindo para a criança completar frases de uma história, por exemplo, expressando assim, as sensações e sentimentos quando trás o “Si mesmo” para aquela atividade, possibilitando que o paciente crie, que ele exista.

Muitos especialistas consideram como desafiante o tratamento à distância, talvez porque o processo terapêutico exija que ambos, profissional e paciente, se permitam brincar. Mas, a liberdade para tal, depende primeiramente do desbloqueio da potência criativa do analista, esteja perto ou longe do paciente. Sempre!

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