O Esconderijo da Raiva
por Roseana Coelho | PsicanalistaOuve-se, desde criança, que sentir raiva é feio, é pecado, não pode.
É um sentimento que não é permitido, que fica tão escondido, que só aparece quando é empurrado e pula pra fora. E ele pula, seja em forma de elaboração, de ação ou de doença.
O que gera esse sentimento de raiva? Os motivos são muitos: medo, insegurança, dor, vulnerabilidade. Algumas situações que causam dores emocionais, são motivos para uma ação agressiva contra o agente causador, ou contra si mesmo, em uma tentativa de não sentir.
Usa-se a raiva como um cobertor para manter essas emoções distantes dos olhos. Muitas vezes tão distantes de si mesmo, que nem é consciente o motivo de estar manifestando tal sentimento através de um comportamento agressivo.
Uma criança que fez algo que entende que vai resultar em uma punição, pode usar a raiva como defesa contra o medo de ser punido ou implicar outro culpado.
Essa projeção do erro ou dores em outra pessoa é uma defesa, é uma forma de tentar não sentir a culpa. Ao agir com raiva e despejar aquele sentimento em alguém, aquela dor é “transferida” para o outro e não precisa ser mais carregada.
O alívio causado por aquela descarga momentânea, pode ser um cavalo de Troia, trazendo em si culpa e arrependimento.
Para lidar com esses sentimentos é preciso ter recursos internos, o ego precisa estar fortalecido, para que tenha força para olhar para o que está causando a raiva.
Negar ou esconder esse sentimento, não é lidar com ele, mas é fazer com que ele se expresse de outra forma, seja na forma de uma explosão, de uma tristeza, ou seja através do corpo, de uma doença.
A raiva esconde ressentimentos e frustrações. Seu esconderijo são doenças no fígado e vesícula biliar.
É expressada também através da pressão alta, tonturas, dores de cabeça sem diagnósticos da medicina. Assim como os outros sentimentos, tem habilidade de impulsionar, gerar energia, seja de forma construtiva ou destrutiva.
Os sentimentos bem elaborados e usados de forma construtiva, são grandes rodas impulsionadoras, que geram movimento no moinho da vida.