De filho a condição de pai

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Por Elisabete Ruivo | Psicanalista

– Nosso bebê nasceu! É um garotão ou é uma linda menina! E não sei o porquê de me sentir tão só! Como dar significado a este sentimento, se nem mesmo o entendo? Tudo me foi tirado: a supremacia de ser o primeiro e único a ser olhado nos olhos com interesse e às vezes, adoração como se fosse o único homem sobre a face da Terra. E agora, ah, agora! Ele, o nosso bebê, ocupa o seu olhar, toma de seus seios, é acolhido em seus braços, ocupou os seus espaços e até seu coração. Sinto-me só! O que faço agora, qual caminho sigo?

Este é o desabafo profundo, doído de um homem – pai, inconsciente de sua função como pai, preso à condição de eterno amante de sua companheira, onde o ideal nem sempre corresponde ao real.

Qualquer circunstância que gera impacto na vida em seus diversos aspectos causa transformações. Com a gravidez, o parto e o pós-parto, não poderia ser diferente. Um bebê, sendo o único na natureza, que requer atenção absoluta para sobreviver, temporariamente ocupa inconsciente este espaço de primazia de seu pai, sem que saia de seu lugar de filho, desde que seu pai se mantenha na sua própria posição hierárquica, ainda que, agora, como um apoio à sua mulher, mãe de seu filho, aquela com que terá que administrar de uma forma diferente esta relação familiar.

A mulher, sofre continuamente influências psíquicas e hormonais, com mais intensidade durante a gravidez e pós-parto, os homens da mesma forma, é claro que também de uma maneira diferente, pois estão sendo impactados nos seus corpos, nas suas psiques, nas suas vidas neste momento, quando é concebida, gestada e nasce uma criança que passa a ser a origem ou a ampliação de sua família, a continuação de seu nome, da sua descendência.

Perpetuar-se rigidamente numa postura divina; fugir desesperado para o lugar de origem é admitir até para si mesmo o lado carente que também precisa ser compreendido, acolhido e ressignificado, de sua criança interior. É negar a transformação de um filho para a condição de pai. É deixar seu potencial de provedor, de guia, de companheiro escondido sobre a persona dionisíaca petrificada no mais íntimo lugar de seu ser.

É o não ser, uma imagem forte inconsciente, anterior à concepção que precisa ser guiada, revelada, materializada, acolhida, nutrida para experimentar o mundo real, o amar e o ser amado, e no ápice de sua jornada sair da situação de filho e renascer na condição de pai.

Cumpre-se a Jornada do Herói. Inicia-se outro ciclo onde outras experiências serão agregadas, enriquecendo e fortalecendo cada vez mais a si mesmo e a futura geração, cuidando sempre para que não deixe escapar a Esperança que os buscadores encontram na própria essência. E ser pai também é uma busca, e a vontade é a ação que a faz ser encontrada.

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