Fugindo de quê?
por Wilson Garcia | Psicanalista
Nos dias atuais, vivemos em um mundo moderno onde se fala muito das novas tecnologias, velocidade de informações e mudanças constantes. Também há um outro lado: com a imersão das novas tecnologias no nosso mundo, surge também o universo do faz-de-conta, como as frequentadas redes sociais. Pessoas deixam de viver suas vidas e ficam “sonhando acordadas”, buscando novos likes ou “curtindo” as aparentes vidas perfeitas dos amigos aparentes.
Como saber se as redes sociais estão gerando enfermidades psíquicas dentro de nós? Fazendo a seguinte pergunta: Existe algum seguimento da sua vida que precisa de foco, mas, ao invés disso, você prefere “sonhar acordado” e fugir para o mundo perfeito e maravilhoso das redes sociais?
Com a chegada de programas de grande audiência, nos quais as pessoas ficam assistindo sobre a vida do outro, chegam também “especialistas da vida” do outro. Muitos chegam a pagar para contribuir com esses shows na decisão do destino da vida do outro. O tempo vai passando e cada vez mais pessoas mergulham num mundo do faz-de-conta e vão fugindo da própria vida. Vão alimentando a mente com rotinas distantes de sua realidade, e, paralelamente, de forma crescente e silenciosa, vai se instalando uma dor poderosa, da qual poucos falam: a dor da alma, o vazio existencial.
Pensa-se que as redes sociais sempre ou quase sempre trazem notícias da vida perfeita de seus “postadores”: viagens, restaurantes, carros novos, a roupa nova para a balada, festas, comidas extravagantes e tantas outras experiências. A questão é ter o vício de ver uma rede que mostre as boas experiências. E se a pessoa fica muito tempo circulando nestas tecnologias, vai se instalando um sentimento de estar perdendo algo, como sucesso, riqueza, glamour, prestígio, já que a grande maioria de sua rede posta estas questões o tempo inteiro. Daí, de forma consciente ou inconsciente, se depara com a sua realidade e percebe que está longe de atingir aquele tipo de vida maravilhosa. E esquece que as dores, os medos, as perdas, as frustrações, tudo isso, nunca ou quase nunca, é postado.
Estamos inseridos num processo de existência que deveria ser de evolução constante. Nesse processo, cada um de nós tem vivências e histórias diferentes. Assim, esta dor pode se manifestar de diversas formas: como depressão, ansiedade, pânico, baixa autoestima, agressividade e tantas outras.
Assumir as rédeas da própria vida é condição básica para começar a semear felicidade. Não devemos criar a ilusão de que será uma tarefa fácil. Construir vida em abundância, requer autoconhecimento, olhar para dentro de si, apropriar-se da sua verdade e então decidir o que fará com ela. Pois só conseguimos mudar aquilo que conhecemos, caso contrário, caímos em armadilhas, assumindo papel de vítima no palco de nossa existência.
A psicanálise pode contribuir na descoberta da busca de seus pacientes. Dentro de nossa estrutura psíquica, o nosso inconsciente é muito maior que nosso consciente. E se não dedicarmos o tempo e a energia que temos no mundo real para elevar nosso autoconhecimento, deixaremos o piloto automático do nosso inconsciente barrar o que buscamos na vida, pois buscamos ser, construir, superar, conquistar, amar…