O jovem contemporâneo e o apelo narcísico

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por Juliana Campos | Psicanalista

A internet transformou o mundo. Com apenas um click na tela do celular, é possível se resolver quase tudo, ou encontrar os meios para tal. Há um “oráculo” disponível permanentemente, que responde qualquer dúvida, deixando para segundo plano o conhecimento registrado em enciclopédias e almanaques. Além disso, não existe mais distância para se falar com qualquer pessoa, esteja ela onde estiver.

Diferente da televisão, além de apenas assistir a algo, pode-se interagir, tornando-se cúmplice daquilo que se vê. E mais: agora o espelho tem tela azul, cabe na palma da mão e pode, através de inúmeros filtros disponíveis, transformar qualquer defeito de forma cirurgicamente digital, em perfeição. Não existe mais “o feio”, todos podem ser o que quiserem, sem na verdade o serem. E o jovem, como está lidando com tudo isso?

Totalmente inserido neste universo tecnológico, o jovem contemporâneo vive um grande desafio: neste percurso de construção de sua própria identidade, precisa se desprender dos ideais criados por seus pais e descobrir quem é ele, o que deve fazer e que caminho seguir. Entretanto, nota-se a cada dia, um crescimento justamente do inverso, mais e mais adolescentes inseguros, necessitando a todo instante do olhar do outro como aprovação do que ele deseja ser.

Para que esse processo ocorra de forma saudável, é necessário que a infância tenha sido bem alicerçada na tríade familiar: pai, mãe e ele. Desta forma, sabendo lidar com suas frustrações desde muito pequeno, esse adolescente vai criando o fortalecimento de si mesmo. E a autoestima é um dos sinais desse ego seguro e preparado para as adversidades do mundo à sua frente. Não há nada de errado em se achar bonito e aceitar-se como indivíduo, tanto em seus sucessos, quanto em seus fracassos, sem os exageros do Narcisismo.

O termo narcisismo se caracteriza por aquele que tem adoração por si mesmo. Baseia-se na lenda de Narciso, o belo jovem, filho de Liriope e Cefiso, que se encanta pelo seu próprio reflexo em um lago e sem se dar conta de que tamanha beleza que ele deslumbrava, não passava da sua própria sombra, atira-se no lago a fim de apropriar-se de tal beleza, vindo a encontrar-se com a morte.

Dessa forma, será um problema quando essa característica for exagerada e principalmente, impedir o processo de individualização do jovem. Esse narcisismo que pode prejudicar o percurso do adolescente surge de várias formas: superficialidade emocional, medo de intimidade, necessidade de aprovação do outro, vazio interior, depressão, ansiedade, insatisfação com o próprio corpo, dificuldade em lidar com limites, dependência, solidão e angústia.

O jovem, na verdade, tenta encontrar uma forma de expressar o que sente: a necessidade de ser visto e acolhido pelos anseios que acometem seus pensamentos. São aflições que o incomodam e como apelo, ele expressa esse incomodo tentando ser o que ele não consegue ser. A psicanálise pode ser a ferramenta que contribuirá para que o jovem consiga se ver além do reflexo de sua imagem. O adolescente, durante o seu processo analítico, poderá justamente se enxergar como um todo, lidar com seus defeitos, fortalecer sua autoestima e estar mais seguro para suas escolhas. Um período de grandes aprendizados para ser um indivíduo mais autônomo, responsável e satisfeito com si mesmo.

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