Luto

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por Juliana Campos | Psicanalista

Falar de luto em qualquer momento é um tema bastante delicado. Agora, falar de luto nos tempos atuais parece ser ainda mais difícil. Isto porque falar de luto, é falar de perda, é falar de dor, é falar de separação. Por isso, muitos associam o luto à morte de uma pessoa querida, importante na vida do enlutado. No entanto, por perda, tem-se muito mais. Pode ser o rompimento de uma relação, uma mudança de residência, a perda de um emprego, o fim de uma amizade ou a morte de um animal de estimação.

Todos passarão, em algum momento, por esse processo. E cada um terá o seu tempo de travessia. E, talvez, o mais difícil seja isso: compreender que cada um tem a sua forma de lidar com o luto. Se uma perda já é extremamente dolorosa, imagine, na atualidade, perder-se tanto em tão pouco tempo. E muitas famílias estão vivenciando essa realidade. O luto geralmente traz uma sensação de vazio, de abandono. Como será possível não sentir mais o olhar de quem se ama? Não sentir o calor, a proteção, a cumplicidade daquele olhar?

Como suportar tudo isso. Honrando! Sim, honrando. Porque infinitas são as possibilidades de homenagear quem se ama. O inconsciente é fantástico e o amor é atemporal. Não há distância para acessá-los. As memórias estão dentro de cada um. Ao acessá-las, você revive os momentos compartilhados com aquele que, fisicamente, não está mais aqui, mas que continua existindo dentro de você. E lembrar de momentos especiais é uma forma de trazer essa pessoa para perto.

Pais? Eles estão dentro de você. Estão em cada célula do seu corpo. Estão no sangue que corre nas suas veias, estão no coração que bate incessantemente. Filhos? Na linda história que eles escreveram junto de você. Irmãos, tios, primos? A conexão familiar nunca se rompe. Amigos? Estão nas fotos, nas dedicatórias, nos presentes que ganhou, nos lugares que frequentavam juntos. O seu animal de estimação? Nos vídeos gravados dos passeios, nas selfies que não deram certo porque se mexeram na hora exata do flash, nos sons registrados e guardados no coração.

Portanto, a morte é uma das etapas da vida. E toda etapa gera uma transformação. O nascer propicia ao feto abandonar o espaço seguro para a sua grande batalha fora da barriga. A criança que dá os primeiros passos rumo a sua autonomia, entre tombos e machucados, trilha o percurso para o seu crescimento. O adolescente que sente o desabrochar da maturidade, tem que deixar a sua criança para encontrar o adulto que ele ainda não sabe quem será. O adulto que, acompanhando o tempo, prossegue na sua estrada construindo mais histórias.

Crescer e viver não são tarefas fáceis. Nascer e morrer, também não são. Mas as lembranças existem para acessar os momentos significativos sempre que se desejar e o amor que segue mostrando, generosamente, a sua existência infinita. Não há mais a presença física, e sim a essência eternamente presente. Assim, quando a saudade apertar, feche seus olhos, acesse suas recordações e sinta aquela mesma alegria que sentiu naquela lembrança. Afinal, se existe saudade é porque existiu amor.

E se a dor for tão dolorosa a ponto de não suportar, a psicanálise pode ser uma ferramenta de auxílio dessa travessia. Uma travessia para se compreender que a ausência pode ser infinita, mas que se é possível olhar para um futuro, traçando novos planos, construindo novas memórias.

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