Mente e Música

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por Luís Bianco | Psicanalista

Em sua vasta obra, Sigmund Freud ocupou-se da quase totalidade dos temas sensíveis à alma humana. Na elaboração de seus trabalhos, além de sua formação acadêmica, ele teve na literatura, importante fonte de inspiração para embasar sua grande descoberta, a Psicanálise.

Também encontrou nas produções literárias a comprovação de suas teorias.

A literatura já o atraía desde a juventude quando, como autodidata, aprendeu o idioma espanhol para satisfazer o desejo de ler, no original, o livro Don Quixote, de Miguel de Cervantes.

Dado tal interesse pela escrita, tornou-se também, ao longo da vida, senhor de um rico estilo.

Sua obra-prima A interpretação dos sonhos, assim como seus demais trabalhos, apresentam qualidade literária não menos notável que a científica.

No esforço que lhe exigiu a criação de sua obra, por outro lado, talvez não tenha tido o tempo de que necessitava para divulgar, com a amplitude que lhe era característica, a totalidade de seus conceitos relacionados a uma manifestação intelectual aparentada à linguagem literária, ou seja, a linguagem musical.

Em seu trabalho Psicologia das Massas e Análise do Eu, mencionou o canto. Ao manifestar-se sobre a alma coletiva, disse que ela tem a capacidade de dar vida a obras espirituais extraordinárias como o idioma e depois, os cantos populares, o folclore etc.

Na prática psicanalítica, a literatura ou a obra impressa também foi objeto da atenção do criador da Psicanálise. Livros e ilustrações relacionados ao conteúdo psíquico de seus pacientes eram elementos importantes de seu trabalho analítico.

Quanto à música, disse, na obra Psicopatologia da Vida Cotidiana que, aquele que queira dar-se ao trabalho de prestar atenção às melodias cantaroladas, despreocupada e involuntariamente, achará, sempre, a relação existente entre o trecho da melodia e um tema que ocupa o pensamento de quem a canta.

Nesse sentido, não é absurda a suposição de que um dos elementos fundamentais da música sensibiliza o ser humano ainda no útero materno. Trata-se do ritmo.

O bebê tem, com certeza, uma vez que está vivo, sensações rítmicas. Os batimentos cardíacos dele e o de sua mãe têm um ritmo no sentido de que se repetem a intervalos regulares.

Em função disso e considerando que, de acordo com a teoria psicanalítica, o desejo do ser humano é retornar ao útero materno, pode-se supor que a predileção da criança de tenra idade, pela percussão seja uma nostalgia do ritmo intrauterino. Observe-se ainda que ela, a criança, nos seus primeiros anos, quando percute, emite um som como acompanhamento.

Na infância da humanidade, os instrumentos de percussão, como o tambor, foram um dos primeiros a serem criados. E, à percussão rítmica foi incorporada a melodia dos cânticos tribais. Pode-se imaginar que os clãs possuíssem, cada um, seus próprios cânticos cerimoniais, assim como tinham seu próprio animal totêmico.

E, recordando a psicologia das massas de Freud, quanto à alma coletiva, ainda hoje a música continua presente, por exemplo, nos hinos patrióticos como elemento de exaltação das nacionalidades e consequentemente como elemento gerador de reações psíquicas.

Presente ainda, nesse sentido, nos modernos festivais musicais dos variados “clãs”; nos “clãs” esportivos com seus hinos etc.

Além disso, a alusão ao amor sensual surgida na música produzida pelos trovadores e menestréis, na idade média, tornou-se recorrente. Não seria exagero afirmar que a quase totalidade da produção musical contemporânea explora esse tema.

Desta forma, convergem e são significativas para a Psicanálise, as linguagens literária e musical.

Têm ambas a qualidade de sensibilizar a alma humana; recorde-se que, recentemente, o prêmio Nobel de literatura foi outorgado a um músico.

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