Metaverso: um virus ou uma vacina?
por Wilson Garcia | PsicanalistaO Metaverso é a próxima versão da internet, nas palavras de seu fundador Zuckerberg, em apresentação que visava explicar que a Meta pretende criar classes de experiências e conteúdo por meio da internet.
Em ambiente virtual, onde serão integrados o mundo real e o virtual, tudo será imersivo, coletivo e hiper-realista. O prazo para esta integração acontecer será crescente, porém fala-se em algo entre cinco e dez anos.
O Metaverso será, sem dúvida, um divisor de águas. Transformará o conceito de interação social, e é por este ponto que se inicia nossa proposta de reflexão.
A mudança será gigantesca, principalmente se levarmos em conta que já vemos como as redes sociais e tecnologias contribuem com a sociedade mundial em seu progresso, mas também, em outro ponto, observamos números alarmantes de crescimento de perda de qualidade de vida por meio da ansiedade e relações.
A tecnologia em dose controlada muito contribuiu com todos, porém, em doses elevadas, parece que trouxe transtornos, desequilíbrios e infelicidade.
O que viveremos no Metaverso?
As possibilidades são inúmeras. Vamos a algumas: estudantes assistindo aula por meio de jogos, o que poderia tornar a experiência de aprendizado mais interessante; pessoas criando avatares para interagir com outros avatares em aulas; reuniões profissionais; visitas a museus; participação em shows; fazer compras utilizando seu avatar, sendo possível interagir com o produto em dimensão diferente.
Ter óculos com design comum com projeção de propagandas de produtos dentro do ônibus, na rua; poder ter uma casa virtual, chamar seus amigos e fazer o encontro dos respectivos avatares convidados; jogar cartas, virtualmente, com seus amigos em ambiente de realidade aumentada; trabalhar em casa, interagindo com as pessoas representadas por seus avatares em tempo real.
Criar produtos virtuais e comercializar estes produtos; criação de artistas virtuais; entre várias outras possibilidades. Afinal, será enfim a unificação de várias tecnologias.
Quais os perigos desta nova realidade?
As possibilidades do Metaverso, porém, não são somente positivas, há também perigos, e eles serão eminentes.
Pessoas adultas e adolescentes vivenciarem experiências dentro de um mundo não real por período longo, podendo impactar na percepção que o indivíduo tem de si no mundo real, o que poderia intensificar distorções já existentes na autoestima, por exemplo, para citar um.
Também se frustrar, sofrer, gerar ansiedade desproporcional na volta ao mundo real, a quebra de elos de relações humanas, possibilidade de maior exposição de dados pessoais, a não criação de laços e empatia, diminuição do contato com o outro de forma presencial, diminuição do olhar nos olhos, menos interação real, choque de realidade com o virtual. Além, é claro, de outras formas de assédio e pornografias.
As redes sociais trouxeram muitos benefícios, mas também trouxeram muitos exageros, evidenciando patologias mais intensificadas. O Metaverso será da mesma forma, porém com uma intensidade bem maior.
O que podemos aprender com a ajuda da psicanálise?
Somos seres sociais e, por isso, temos características únicas de convivência. Uma alteração nesse sentido pode complicar todo o panorama.
Um vírus em nosso organismo, em dose desproporcional à nossa imunidade, se transforma em enfermidade, que pode ser leve e até grave, e, se não tratada a tempo, pode se complicar e ser fatal.
Por outro lado e de forma mais simplificada, a vacina tem um princípio de inserir um vírus dentro do organismo em dose controlada, o que traz o benefício da produção de anticorpos em nossos organismos.
Assim, fica aqui a reflexão: o Metaverso será vírus e será vacina. O vírus é contraído, se pega e, quando menos se espera, a enfermidade se instala. A vacina é uma busca consciente : é uma escolha que você faz para sua saúde e bem-estar.
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Wilson Garcia
Psicanalista