Enquanto ser de linguagem, o adulto fala o que sente e o que pensa, palavras que podem ser ou não interpretadas e correspondidas em seus anseios. Porém, nem sempre a fala consegue manifestar exatamente o sentimento que gerou a palavra e por não se sentir entendida, a pessoa tem a sensação de viver em um lugar chamado Torre de Babel e até procurar uma terapia, não só para ser ouvida, mas também acolhida nas manifestações do seu mundo interior.
A maneira mais primária de verbalizar as sensações que a conexão eu/mundo traz é o choro e, conforme as sensações, o bebê estará expressando essa conexão eu/outro. Na medida em que vai crescendo, através do brinquedo e do brincar, com um vocabulário ainda principiante, sinaliza o tempo todo como o seu mundo está, as suas facilidades e dificuldades.
As crianças pequenas possuem maneiras muito próprias de “falar” sobre seus sentimentos e impressões e de como estão assimilando os valores e crenças passadas pela família e pela sociedade. Muitas vezes, por exemplo, a criança verbaliza palavras de pura raiva como “eu te odeio” diante de um “não pode”, que acabam por desestabilizar o adulto que colocou o limite, trazendo sentimentos de impotência perante aquela agressão verbal.
Como a sociedade moderna tem uma forma, muitas vezes, equivocada de lidar com o “não”, parece que o adulto frustrado quando criança, entende que o filho não deverá sentir o que ele sentiu lá atrás, com seus pais. São sentimentos represados e nunca falados ou nunca ouvidos. Talvez, esse adulto, ainda magoado, faça um julgamento dos genitores e, provavelmente, terá medo que o filho o julgue da mesma forma. Mas será que ele prestou atenção no motivo que gerou aquele “eu te odeio” ? Pode ser que desde criança, guarde ainda a dor de não se sentir ouvido, tornando-se um adulto que conhece há tempos a sensação de viver naquele lugar da Torre de Babel.
E como lidar com isso? Onde falar desses sentimentos confinados e acumulados? Como melhorar as relações familiares, profissionais e sociais? Como reelaborar percepções que assombram e, muitas vezes, fazem perder o sono e o apetite?
Tanto a Psicoembriologia, que atende desde a gestação até os três anos de idade, quanto a Psicanálise, são terapias que ouvem e acolhem a dor do paciente. O espaço analítico proporciona a oportunidade de entrar em contato com os sentimentos guardados, sendo mais um importante lugar da fala, seja como a criança de hoje ou a criança de ontem.