O papel essencial do pai na Psicoembriologia Sistêmica:

por Nelson Macedo | psicanalista e psicoembriólogo

Formando a identidade e a personalidade da criança

O que é “função paterna”? Será que é a mesma coisa que “ser pai”? Sob o ponto de vista da Psicoembriologia Sistêmica, são coisas um pouco diferentes.

A Psicoembriologia Sistêmica foi desenvolvida pelo professor Wilson Ribeiro na década de 1960, com o propósito de evitar as dores do parto, tão difundidas e temidas pelas futuras mamães, e também de evitar a formação de traumas desde a vida fetal daquela pessoa. Esses traumas dizem respeito a situações emocionalmente negativas percebidas pelo feto durante a gravidez, com grande importância para aquilo que de alguma forma atingiu a mãe gestante. Numa abordagem sistêmica, usando diversas técnicas, busca-se lidar da melhor maneira possível com os traumas e suas consequências, apoiando a formação de uma pessoa saudável e apta a viver com sua maior potencialidade.

E aí entra a função paterna, que é diferente da figura do pai, ou pai biológico. O esperado é que esse pai biológico, além do material genético, também dê sua presença e seu apoio material, o que nem sempre acontece.

A função paterna é fundamental desde a gravidez. O feto reconhece as vozes da mãe e do pai, e saberá buscar contato com esse pai logo ao nascer, criando laços que perdurarão e que serão fundamentais ao desenvolvimento dessa nova pessoa.

Sabemos que o bebê e a mamãe estão intrinsecamente ligados desde a concepção do feto, dentro do útero. Graças a essa ligação, pode a futura criança desenvolver-se com saúde, sendo nutrida e protegida pela mãe grávida, até que venha à luz, ao mundo aéreo.

Nessa nova etapa, o bebê precisa de cuidados intensos. Esses cuidados fazem parte da função materna: nutrir com leite e com afeto, cuidar da higiene e da saúde do recém-nascido, que assim tem a chance de se desenvolver, crescer, aprender. No início de seu desenvolvimento, a criança naturalmente se sentirá mais segura com quem exerce a função materna; por isso, sempre buscará estar perto da mãe ou da cuidadora.

Porém, há um limite para essa “simbiose”, que acontece quando ela deixa de ser saudável e pode se tornar patológica, pois, para que possamos viver plenamente nossa vida, temos que fazer coisas por nós mesmos; temos que aprender a interagir responsavelmente com as outras pessoas e com os ambientes disponíveis ao nosso pleno desenvolvimento. Temos que conhecer os limites, temos que aprender a lidar com a frustração.

Aí surge a necessidade da função paterna: alguém que vai afastar a criança do processo simbiótico com a mãe. Essa pessoa será “o interdito”; será quem se interpõe, que se coloca entre a mãe e a criança, que estimula o fim da simbiose. Por exemplo, será a função paterna que dirá à mãe (ou à “função materna”) que o bebê está bem e não precisa ser levado a dormir na cama do casal. Ou que já é tempo de parar de mamar no peito. Ou que é tempo de a criança se higienizar sozinha, tirar a fralda, arrumar suas coisas. A função paterna garante que a criança não será prejudicada pelo excesso de proteção e buscará fazer as próprias coisas, desenvolvendo assim sua autonomia.

Outro papel importantíssimo do “interdito paterno” é  mostrar o mundo à criança, levá-la a agir na sociedade, tornando-a um ser autônomo e ativo na sua própria história, fazendo coisas por iniciativa ou desejo próprio, aprendendo a avançar e a medir as consequências de suas escolhas.

Aproveitando valiosos conceitos da Psicanálise, a Psicoembriologia Sistêmica aplicará técnicas para ensinar como fazer, da melhor forma possível, o “interdito” do desejo e da dependência do filho em relação ao outro e vice-versa. É fundamental que a criança tenha um educador que faça a função paterna, que execute o chamado corte simbiótico. Caso isso não aconteça, teremos, no futuro, um adulto com grandes dificuldades em levar uma vida satisfatória, autônoma, responsável.

Ilustremos com um exemplo: o pai decidiu levar a criança ao parque; eles foram sem a mãe, sem lanche, sem protetor solar nem boné, nem chapéu, e nem mesmo água. A criança ausentou-se por horas. Viu o mundo, mexeu nos insetos do canteiro de flores, conversou com outras crianças, brigou, fez as pazes, pulou, correu, caiu. Ao atravessar a rua, avaliou os riscos junto com o pai. Comeu muita pipoca com açúcar (daria dor de barriga leve, depois). A criança voltou para casa bem sujinha, com um joelho ralado, e feliz, feliz, feliz. Ela estava aprendendo a se inserir no mundo.

No tratamento com mulheres grávidas, a Psicoembriologia Sistêmica terá cuidado especial nas situações extremas, buscando apoiar a futura mamãe e, principalmente, o bebê em formação. Há possibilidade de se atuar preventivamente desde cedo, através da efetiva conexão entre a mãe e a criança, preparando ambas para o futuro corte simbiótico a ser feito em tempo hábil, idealmente antes dos 3 anos de idade. É uma condição necessária. Estimulada pela função paterna, a criança construirá sua identidade; ela não será mais “uma coisa só com a mamãe”. A criança será uma pessoa adulta com personalidade própria, e não uma “cópia” da personalidade da mãe, pois haverá ali, sempre à disposição, outra referência confiável, a função paterna.

Na realidade dos tratamentos psicanalíticos, deparamo-nos com situações em que a função paterna foi realizada pela “mãe solo”, num esforço gigantesco de se desdobrar em dois papéis, sem ajuda de outra pessoa. Também apontamos situações em que um avô, um tio ou uma pessoa do sexo feminino exerceram a função paterna.

E aquela criança conseguiu desenvolver estruturas suficientemente fortes e seguras para enfrentar as dificuldades da vida cotidiana e viver, realizar os seus desejos num mundo cheio de possibilidades.

É o que buscamos: pessoas levando vidas mais satisfatórias.

Que tal conhecer a Psicoembriologia Sistêmica?

O IBCP oferece grupos de gestação dirigida e cursos de Psicoembriologia.

Informe-se clicando AQUI

 

O QUE ACHOU DA POSTAGEM?

    últimas postagens

    A Fronteira Final da Terapia: Integrando Biodinâmica na Cura

    por Equipe IBCP
    A Integração Corpo-Mente. Historicamente, a prática da psicoterapia tem sido dominada por abordagens que focam primariamente na mente e nos processos cognitivos, muitas vezes negligenciando o papel fundamental que o corpo desempenha na saúde mental. Contudo, o surgimento da Psicanálise e, mais recentemente, da Biodinâmica, destacou a inextricável ligação entre o físico e o psíquico. […]
    Leia mais+

    Os fatores que influenciam a saúde mental

    por Anderson R Vieira - Psicanalista
    Diversos fatores podem influenciar a saúde mental, os principais são: a genética, os fatores biológicos, os psicológicos, os fatores ambientais e sociais. A seguir vamos abordar cada um deles e como podem impactar na saúde mental. Atualmente, existem diversos estudos que sugerem que os fatores genéticos podem desempenhar um papel no desenvolvimento de alguns transtornos […]
    Leia mais+
    LEIA TODAS AS POSTAGENS
    plugins premium WordPress