Saúde mental e normalidade

por Dimitria Cardoso | Psicanalista

Saúde mental e normalidade

O que é saúde mental?

A vida saudável é um ideal perseguido por nós, mas o que é ter saúde?

Desde os gregos e por milênios, saúde era ter harmonia, equilíbrio e o contrário, o desequilíbrio, seria a doença.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades”.

Então, se em tese saúde é bem-estar, qualquer mal-estar poderia ser tratado pela medicina? No dicionário médico para saúde mental (DSM), foram classificados como distúrbios mentais grande parte do mal-estar que experimentamos em nossos dias, nossos sentimentos e emoções, foram ali catalogados. Isso é um progresso ou estamos transformando em patologia nossas dores? Na busca de soluções imediatas e esperando da ciência a resposta para os nossos males emocionais, cada vez mais nossos sofrimentos, paixões e dificuldades são nomeados por termos médicos, usados para organizar nossas formas de reagir a adversidades e traumas experimentados. Seria o diagnóstico psiquiátrico capaz de resumir nossas vivências emocionais?

O conceito de doença mental autoriza e legitima a intervenção médica, pessoas com quadros moderados ou graves de depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, estados psicóticos, entre outros, são tratadas necessariamente com medicamentos psiquiátricos e cada vez mais são beneficiadas pela evolução da pesquisa e desenvolvimento  cientifico dos mesmos. Mas, estatisticamente, a  constatação de  que, em muitos casos, a causa dos conflitos são questões humanas e morais, a falta de tratamentos médicos disponíveis para estes, fez então surgir em 1960 o conceito de distúrbio mental, que tratava o sentimento humano com a lógica da biomédica, o que inclui  estudos estatísticos e de adaptação ao meio. Distúrbio, significa desvio, alteração, perturbação, desajuste  em relação à média, em outras palavras, distúrbio mental é uma alteração em relação ao padrão da espécie  e vivida social e culturalmente como um prejuízo.

No primeiro DSM de 1952, 106 distúrbios foram descritos, no último de 2013 foram 300. Estamos vivendo uma epidemia de distúrbios mentais? Algumas das descrições classificatórias na edição de 2013: o luto se durar mais que 2 semanas, já pode ser classificado como depressão, a TPM mais acentuada também, a gula se perdurar por mais de 2 horas é classificada como TOC.

Os manuais definem os distúrbios, mas não definem o que é normal. Existe um jeito certo de ser?

É necessário serenidade para pensar neste tema, mas não há quem não tenha ou viva conflitos e a cada dia é mais comum a tentativa de controle através da química.

Para a psicanálise as possibilidades do ser humano e suas emoções, incluem as diferenças que nos constituem, o auto- conhecimento nos ajuda a viver melhor, a análise está a serviço de uma concepção do sujeito que não se reduz a um diagnóstico. Somos a nossa história, tomar conhecimento dos nossos desejos e caminhos, para que sejam realizados, talvez nos torne protagonistas. Neste processo, pode acontecer de nos darmos conta de que não somos quem gostaríamos de ser e gostamos muito menos de quem somos, mas não podemos deixar de ser. A escuta psicanalítica se destina a um sujeito emergente por trás das dores que os conflitos humanos expressam como sintomas.

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