O ser, a alma e a Psicanálise

por Luís Bianco | Psicanalista Didata

O ser, a alma e a Psicanálise

O processo biológico do nascimento do ser humano, dá-se como o dos demais animais; processo de todos conhecido. No que se refere ao esquema mental do recém-nascido, porém, pouco se sabe.

Ocorre que, a partir dali, do nascimento do ser humano, surge a pessoa racional que passará a ser afetada pelo seu psiquismo; passará a estar sujeita, além das dores do corpo, às dores da alma, entendidas, essas, como as questões relacionadas à espiritualidade ou intelectualidade, como quer Freud, ao investigar a história das religiões. Segundo ele, a crer no testemunho da linguagem, foi o movimento do ar que ensejou aquela espiritualidade pois, como disse, o espírito deriva seu nome do alento (animus, spiritus).

Em nosso idioma, alentar é sinônimo de dar ânimo e, animar, por sua vez, do latim, animare, significa dar alma. Com efeito, esta foi pressentida, desde os primórdios da humanidade, obrigados que foram, os seres humanos, a reconhecer a existência de poderes espirituais; de forças que não podiam ser percebidas pelos sentidos, mas que atuavam de forma indômita na mente.

Assim, amedrontados, por exemplo, frente aos fenômenos da natureza – raios e trovões –  atribuíam, tal inclemência, a poderes que os submetiam e que poderiam, inclusive, dominar seus espíritos fazendo-os adoecer.

Importante observar que aqueles nossos antepassados não consideravam a alma como algo inseparável do corpo, como se depreende da maneira como encaravam o Susto. Para eles, esse fenômeno era considerado patológico pois acreditavam que o espírito do ser afetado deixava o corpo e se perdia; tornava-se uma alma perdida. Para a cura de tal enfermidade, rituais e cerimônias, presididas por xamãs, tinham o objetivo de encontrar essa essência perdida, trazê-la de volta e restaurá-la.

Observe-se ainda que, embora acreditassem que tal essência se perdia, o alento, que é, também, a respiração, preservava a vida; esta somente estaria extinta no momento da morte quando, para usar a expressão citada por Freud, o ser “exala” sua alma. De uma forma mais clara, poderíamos, então, inferir que: se os seres exalam suas almas ao morrer, eles a “inalam” ao nascer.

De qualquer maneira, entre aqueles dois momentos cruciais, envoltos em mistério, permanecem, os seres humanos, desde os primórdios, como já visto, a ser afetados pelas dores do psiquismo. E, nesse sentido a Psicanálise apresenta-se  como a ciência que pode prestar uma grande colaboração no tratamento delas.

Falamos do susto, por exemplo – fenômeno relacionado à angústia – que já era objeto de atenção terapêutica nas sociedades pré-históricas. Modernamente e, segundo a opinião de um estudioso do tema, o Susto não é uma mera superstição, mas uma condição médica que pode ser abordada científica e antropologicamente.

Assim, à perda da alma poderíamos, desde um ponto de vista psicanalítico, tomá-la como equivalente às neuroses e outros distúrbios psíquicos que tanto nos afetam, uma vez que,  na crença daquelas antigas sociedades, o espírito poderia deixar o corpo pelo susto provocado pelos mesmos objetos e situações presentes, ainda hoje, nas fobias: tempestades, serpentes etc.

A Psicanálise, então, por seu foco naquelas afecções, entre outras, está perfeitamente apta, dentro de certos limites, a trazer de volta à alma ou mente ou espírito daqueles que se disponham ao tratamento, a saúde e bem-estar indispensáveis para uma vida digna de ser vivida.

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