Um pouco da história de Wilhelm Reich

por Roseana Coelho - Psicanalista

O psicanalista e psiquiatra Wilhelm Reich nasceu na Galízia, que fazia parte do Império Austro-húngaro, hoje norte da Ucrânia, em 24 de março de 1897. Fazia parte de uma família abastada, que morava em uma fazenda. Por estar desde cedo em contato com a natureza e os animais, passou a se interessar pelos fenômenos naturais que observava, especialmente relacionados à reprodução, trazendo para sua própria vida, desde cedo, o interesse pela sexualidade.

Seu pai viaja frequentemente, estava ausente na maior parte do tempo. Sua mãe, em resposta à solidão que se encontrava, iniciou um romance com o preceptor dos filhos. O jovem Wilhelm, com então 13 anos, chegou a ouvir os sons dos amantes e, involuntariamente, denunciou ao pai as aventuras da mãe. A partir de então Leon, o pai, passou a atormentar e humilhar sua esposa de tal forma, que a única saída encontrada por ela para pôr fim ao sofrimento foi tomar veneno. Cäcylie, a mãe, morreu em outubro de 1910, causando um trauma imenso em Reich.

Seu pai, tomado pelo remorso, contraiu uma pneumonia que evoluiu para uma tuberculose e que o levou a morte em 1914. Wilhelm, com 17 anos, e seu irmão, três anos mais novo, ficam desamparados e responsáveis pela gestão da fazenda. No ano seguinte a fazenda foi invadida pelos russos em decorrência da I Guerra Mundial. Reich foge para Viena e se alista no exército onde se graduou oficial e serviu na frente italiana.

Com o fim da guerra, pôde se dedicar aos estudos, novamente ingressando na Faculdade de Medicina da Universidade de Viena. Por ser um veterano de guerra, e aluno excepcional, Reich finalizou a faculdade de medicina, que a princípio duraria seis anos, em apenas quatro anos.

Durante seus estudos de medicina, percebeu que o tema da sexualidade não era trabalhado, passou a se questionar porque os médicos não tinham essa formação e assim, reconhecendo a importância do tema, foi atraído pelo trabalho de Sigmund Freud. Durante os últimos anos do curso fez pós-graduação em neuropsiquiatria e participou de trabalhos na policlínica em hipnose, terapia sugestiva, cursos especiais e biologia.

A psicanálise estava florescendo das percepções de Freud sobre as doenças mentais. Reich se aproximou do pai da psicanálise, logo se tornando um dos membros mais jovens e promissores do círculo psicanalítico da época. Descreveu Freud como um homem gentil, nada arrogante e muito vivaz.

A partir daí Reich começou sua prática psicanalítica. Foi assistente clínico da Policlínica Psicanalítica de Freud em Viena por seis anos e Diretor do Seminário de Terapia Psicanalítica. Realizou pesquisas sobre os efeitos sociais da neurose, o que acabou por gerar um conflito com seu mestre.

Reich contribuiu imensamente para o desenvolvimento da psicanálise com suas pesquisas sobre a satisfação sexual (o orgasmo) e sua importância para a manutenção do equilíbrio energético do corpo. Descobriu também que, em distúrbios psíquicos, a energia biológica acumulada está ligada não apenas aos sintomas emocionais, mas também a rigidez do comportamento e ao corpo do indivíduo. Reich realizou uma série de experimentos laboratoriais para verificar a existência de uma energia biológica física expressa nas emoções.

Reich entende que o discurso, muitas vezes, estava desconectado das expressões corporais, que poderia ser adulterado, mas não é possível fingir através da linguagem corporal. Assim, ele começou a questionar a técnica de Freud, foi se direcionando para as expressões corporais e fez uma proposta de tratamento diferente: trazer o corpo de volta para o movimento terapêutico.

O interesse de Reich era a prevenção das neuroses. Ele diz à Freud: “você tem que renovar toda sua maneira de pensar para que você não pense do ponto de vista do Estado e da cultura, mas do ponto de vista do que as pessoas precisam e do que sofrem. Então você organiza suas instituições sociais de acordo”.

Entendia que o sofrimento das pessoas mais simples, da classe trabalhadora, também estava relacionado à atividade sexual, então passou boa parte do seu tempo e investiu seu dinheiro educando essas pessoas sobre o papel essencial da sexualidade em suas vidas, controle de natalidade, direitos de divórcio e moradia. Pensava em uma restruturação social. Entendeu que existe uma saúde própria do organismo, que pode ser recuperada se houver uma nova organização da sociedade.

Seu envolvimento político-social custou caro, foi forçado a fugir da Alemanha em 1933, com a chegada de Hitler ao poder. Foi denunciado pelo Partido Comunista e expulso da Associação Psicanalítica Internacional.

Continuou suas pesquisas sobre a energia biológica física que se manifestava em emoções e tornou-se um dos maiores colaboradores do que sabemos hoje sobre psicossomática, a relação das emoções com o corpo e o desenvolvimento de doenças.

Em 19 de agosto 1939, Reich emigra para Nova York no último navio a deixar a Noruega antes do início da Segunda Guerra Mundial.

Suas atividades em solo americano chamaram atenção da agência de Administração de Alimentos e Drogas. Muitas distorções e insinuações sobre suas teorias sexuais e sua pesquisa com a energia orgone foram publicadas em um artigo na revista New Republic em 1947.

Em fevereiro de 1954, a agência apresentou uma queixa de liminar contra Reich no Tribunal. A denúncia declarou que a energia orgone não existia, e pediu ao Tribunal para proibir o envio dos acumuladores desenvolvidos no comércio interestadual e proibir a literatura publicada. Reich ignorou a liminar e em 1956 foi condenado a dois anos de prisão federal por desacato criminal. O governo destruiu vários acumuladores orgone e livros publicados. Ele dedicou seus últimos anos na pesquisa da energia orgone e no desenvolvimento desses aceleradores.

Em 22 de março de 1957, dois dias antes do seu aniversário de 60 anos foi preso. Ele morreu na prisão, de insuficiência cardíaca, em 3 de novembro de 1957.

Wilhelm Reich deixou o legado do olhar para o corpo e sua linguagem como parte importante da vida psíquica. Sua vida foi dedicada à busca de métodos que possibilitassem a compreensão da saúde humana em todos os seus aspectos (psíquico, físico e social) influenciando não só a psicanálise, mas as mais diferentes áreas do conhecimento.

Roseana Coelho – Psicanalista

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