Teoria Kleiniana e a ansiedade depressiva infantil

por Nelson Macedo | Psicanalista

Teoria Kleiniana e a ansiedade depressiva infantil

Tristeza e incapacidade de sentir prazer. Dificuldade de falar o que sente. Desesperança. Podemos observar esses comportamentos mesmo em crianças muito pequenas.

O que pode ser feito a respeito?

O trabalho da psicanalista Melanie Klein (1882-1960), expandindo e desenvolvendo ideias freudianas, abriu caminho para a aplicação da Psicanálise também em crianças, com reconhecidos benefícios diante de doenças psíquicas diagnosticadas, tais como a ansiedade depressiva infantil.

Em seu livro “Psicanálise da Criança”, lançado em 1932, Melanie Klein relata casos de análise infantil e alicerça o que veio a ser conhecido por teoria Kleiniana, um grupo coerente de abordagens que permitem à criança expressar suas ansiedades, culpas e medos inconscientes.

Sem a pretensão de abarcar todo o tema, podemos dizer que a base da teoria Kleiniana está em admitir que o bebê tem um mundo interior, formado pela fusão com as percepções do mundo exterior, gerando ansiedades que se referem à sobrevivência, tais como o medo do aniquilamento. Desse mundo interior advêm duas “posições”, ao longo do primeiro ano de vida do bebê. Na primeira “posição”, o mundo ainda está desagregado em objetos “bons”, quando atendido em suas necessidades, ou, ao contrário, em objetos “maus”, quando não atendido, segundo a percepção da criança – uma percepção ainda fragmentada nesses primeiros seis meses de vida. Ali pelo segundo semestre de vida do bebê, as pessoas e os objetos já são “inteiros”, ou integrados; essa é a segunda “posição”, denominada “depressiva”. Cumpre dizer que as duas posições, uma vez formadas, tendem a se repetir ao longo da vida da pessoa, trazendo então sintomas atenuados ou piorados, tais como a culpa e a necessidade de reparação, por exemplo.

Assim, podemos definir a ansiedade depressiva infantil como resultado da passagem da criança pelo período de construção da sua posição depressiva; o medo de perder o “objeto bom” pode ser muito forte. Tal angústia levará à construção de certas defesas do Ego, no jargão da Psicanálise.

Por motivos que podem depois ser conhecidos em análise, a criança passa a ver o mundo “em preto e branco”: as cores foram perdidas, talvez no excesso de angústia pela possível perda de algo muito importante, através de construções elaboradas em seu mundo interior, nas chamadas “fantasias inconscientes”.

E como trabalhar essas fantasias, dando possibilidade de tratamento?

O conhecimento kleiniano, laboriosamente construído e experimentado, abre amplas possibilidades de intervenção analítica. Melanie Klein aponta, na obra acima referida, que “a análise pode fazer pelas crianças (…) tudo o que pode fazer pelos adultos, e ainda mais”. De fato, dando oportunidade de manejo psicanalítico, a crescente intervenção clínica buscará liberar as “pulsões de vida” que estão naquela pequena pessoa, esperando para desabrochar e crescer.

Basicamente, a análise será desenvolvida através de jogos simbólicos, que podem envolver desenhos, histórias, trabalhos manuais, brinquedos, sempre conduzidos por profissional capacitado e experiente. Será necessário analisar os símbolos expressados pela criança, na busca de conteúdos dolorosos, que devem ser percebidos, manejados e trazidos para a realidade. Surgem então os medos, as ansiedades e os desejos, que serão trabalhados pelo analista de diversas formas, incluindo o necessário uso da linguagem, que deve ser cuidadosamente adequada àquela pequena pessoa.

Para quem conhece a Psicanálise, trabalha-se aqui o equivalente às “associações livres de ideias”.

Quanto a ansiedade depressiva, há desafios importantes no tratamento de crianças, pois elas apresentam variações individuais na capacidade de resolver a angústia. Cada pequena pessoa já terá seus próprios mecanismos de defesa preferenciais – criados nos primórdios da formação do ego – e poderá lidar com maior ou menor quantidade de angústia presente. Portanto, não é possível definir, de início, um período de duração para um tratamento psicanalítico em criança. Também será necessário o envolvimento dos pais, ou de quem fizer os papéis de pai e de mãe.

No Instituto Brasileiro de Ciências e Psicanálise, temos profissionais com grande experiência prática em Psicanálise de Crianças, e podemos ajudar efetivamente no manejo da ansiedade depressiva infantil.

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