À beira do divã
porPor Elizabete Ruivo – Psicanalista Didata
Os pacientes chegam, cada um no seu horário, trazendo desde o silêncio inquietante de um deserto até o alvoroço intermitente de falas conexas ou não, às vezes intercaladas com copiosas lágrimas, outras como fios de água descendo vagarosas em meio a respirações profundas, tensas, sofridas ou risos jocosos, irônicos. Projetam sobre a tela em branco suas dores, seus amores, buscando em si mesmos novos significados para colorir genuína e inteiramente suas histórias de vida, seus mitos.
O silêncio trazido, pede a quietude interna do analista, como um acolhimento, uma sensação sem palavras:
– Aceite-me!
A fala intermitente, o desespero revelado surgido durante a análise referente a algo conscientizado, traz lembranças ao analista que, de alma para alma respirando fundo, pensa:
– Como eu entendo você!
As lágrimas oriundas da tristeza por fatos mal compreendidos, indecifráveis, mas sentidos escorrem através do olhar decepcionado ou indignado, suplicante ou revoltado, porém pedindo:
– Preciso de que me ouça… e me veja, estou aqui!
Os risos maliciosos, jocosos, irônicos, não deixam atrás de si dúvidas, que se reveladas são sua própria impotência:
– Eu rio para não chorar!
A cada paciente atendido, a tela se altera e outra história se revela, mas, os buscadores, os protagonistas de seus mitos, são heróis em sua jornada, reconhecendo os caminhos já vividos, resignificando cada pedra encontrada mostrando ao ego:
– Olhe, eu posso retirá-la e nem é tão pesada assim. Agora eu sei, agora eu sinto que a vida é de minha inteira responsabilidade, sou o sujeito de minhas escolhas!
Psicanalistas e pacientes caminham paralelamente, ele, o profissional, à beira do divã, lapidando resíduos de suas vivências analíticas e seus clientes deitados neste divã, aceitando e querendo refazer o caminho de volta para si mesmo, ambos sob a proteção de Quiron, o Deus Ferido, guia dos terapeutas.