A verdade no castelo em forma de Fábula
por Christina Guedes | Psicanalista e PsicoembriólogaAs histórias possuem uma função importante na prevenção e cura de traumas na infância, além de ajudarem no desenvolvimento físico e emocional, desde a gestação. Então, nada melhor do que contar uma história, liberem a imaginação…
Era uma vez um vilarejo muito distante, mas não tão distante, onde existia um lindo e grandioso castelo, o rei era soberano e poucos conseguiam chegar até ele.
Então, em uma bela manhã de céu azul e sol brilhando, a Verdade acordou querendo entrar no castelo e conversar com o rei, porém como ela poderia ir até o castelo, se ela é abstrata?
A Verdade parou e pensou: vou escolher o corpo de uma mulher. Transformou-se em uma linda mulher e caminhou em direção ao palácio.
Ao chegar no palácio avistou uma enorme porta: toc … toc… toc… um guarda abriu a porta, viu uma mulher e disse:
- Quem é a senhora e o que quer aqui?
Ela respondeu:
- Eu me chamo Verdade, gostaria de conhecer o castelo, sua majestade o rei e nada mais.
O guarda disse:
- Haaaa! Não sei não. Vou anunciá-la ao rei.
E o guarda foi até o rei: - Tem uma mulher querendo entrar no castelo e falar com vossa majestade. Posso deixá-la entrar?
O Rei disse:
- Uma mulher? Como ela se chama?
O guarda respondeu:
- Ela disse que se chama Verdade.
O rei:
- Verdade? Aqui no meu castelo? Nem pensar. Fale para ela pegar a estrada de volta para o vilarejo.
O guarda foi até a porta, disse para a mulher que ela não poderia entrar e que deveria voltar imediatamente para o vilarejo.
Porém, a Verdade em um corpo de mulher, estava obstinada e determinada a conhecer o rei.
No caminho de volta para o vilarejo, ela encontrou uma pele de animal deixada pelos caçadores na beira da estrada; a pele era de um animal feroz, já estava se decompondo e exalava um cheiro horrível. Ela se cobriu com a pele do animal, voltou ao castelo e bateu à porta: toc… toc… toc… e o guarda veio atender a porta.
O guarda disse:
- O que a senhora quer aqui no castelo?
Ela respondeu:
- Quero conhecer o rei.
O guarda perguntou:
- Quem quer falar com o rei?
Ela respondeu:
- Eu sou a Acusação.
O guarda disse:
- Preciso perguntar para o rei, fique aqui e espere.
O guarda foi até o rei e disse:
- Lá fora tem uma mulher, vestida com pele de animal recém abatido, ainda sangrando e malcheiroso, dizendo que quer conhecer vossa majestade.
O rei pergunta:
- Ela disse como se chama?
O guarda responde:
- Sim, ela se chama Acusação.
O Rei:
- Acusação? Aqui no nosso castelo? De jeito nenhum. O que seria de nós se a Acusação entrasse em nosso castelo? Pode mandá-la embora e diga para nunca mais voltar. Então o guarda foi até a porta e disse para a senhora:
- Volte para o vilarejo, você nunca poderá entrar no castelo.
A Acusação foi embora, porém estava decidida a entrar no castelo. Quando ela estava indo embora do castelo, o sol já estava se pondo e ao olhar para o jardim decidiu ir até ele, pois viu o sol brilhando sobre as flores.
Ao chegar, ficou encantada com o perfume e as cores das flores. Então, ela banhou-se com as essências das flores, purificou-se com o ar da natureza e vestiu-se com um lindo vestido que ela mesmo teceu usando as pétalas das flores do jardim.
Quando ela caminhava, o vestido balançava com a sintonia dos ventos. Encantada com tantas flores delicadas, fez um lindo colar e enfeitou os cabelos. Sentiu-se linda e pronta para voltar ao castelo.
Ao chegar ao castelo, o guarda parecia estar a sua espera.
O guarda abriu a porta e disse:
- Olá! O que gostaria tamanha formosura em nosso castelo?
Ela respondeu:
- Conhecer sua majestade o rei, nada mais.
O guarda amigavelmente perguntou o seu nome e disse que não teria nenhum problema, porém teria que anunciá-la ao rei e pediu que ela aguardasse um instante.
O guarda foi até o rei correndo e disse:
- Lá fora tem uma mulher, que é um espetáculo. Ela tem flores no cabelo tão delicadas e perfume tão suave.
O rei perguntou:
- Ela disse como se chama?
O guarda respondeu:
- Ela disse que se chama Fábula.
O rei disse:
- Haaa! Fábula aqui no nosso castelo? Que ela seja recebida como uma rainha, deixe-a entrar pela porta principal e todo o reinado deve recepcioná-la.
A Fábula entrou no castelo, calmamente sentou-se à direita do rei na grande mesa do castelo, alimentou-se com as deliciosas guloseimas, contou várias histórias, ficou o tempo que julgou necessário e depois despediu-se.
E o rei disse:
- Fábula não se vá.
E ela respondeu:
- Já é hora de ir, preciso conhecer outros castelos.
O rei disse:
- Volte quando quiser, sempre teremos as portas do castelo abertas para você.
E assim ela partiu. Foi assim que a verdade entrou no palácio.
A verdade deve ser sempre dita de acordo com as circunstâncias e muitas vezes utilizar o recurso da Fábula poderá servir de apoio em momentos mais difíceis.