Por: Eliana Viana / Psicanalista
Na História do empreendedorismo, temos pessoas que se tornaram referência quando, diante de crises, desafios, não se conformaram com a situação, transformando-a “em oportunidades”, por exemplo: na Itália temos Marco Polo, sec XIII e no Brasil Barão de Mauá, sec XIX.
Num outro contexto, dando um salto para o século XXI, surgem novas crises, demandas, desafios, enfim, fatores que afetam às realidades do empreendedor: a interna e a externa.
Independente do seguimento que o empreendedor vier a escolher, para que não seja afetado de forma negativa em seus empreendimentos e seja vencido pela realidade externa, pois além dos fatores acima mencionados, para que ele se atualize no tempo, em meio a uma avalanche de informações produzidas pelas mídias, inclusive alimentadas pelo próprio sistema de mercado e consumo atual, é preciso cuidar de sua saúde psíquica.
O que leva em conta a psicanálise para quem é empreendedor
A reflexão, neste caso, torna-se necessária para que o empreendedor se atente à sua realidade interna, onde são desenvolvidos os afetos, as sensações, percepções, sentimentos, etc, e, os princípios, valores que o capacitarão a fazer escolhas que trarão sentido à sua existência, pois irão sinalizar se estão sendo capazes de interagir de forma saudável nas relações: com o outro, com o ambiente e principalmente consigo mesmo.
Inclusive no resultado concreto de uma negociação, antes de vir à tona (realidade externa), uma travessia de sentimentos ambíguos eclodem no emocional do empreendedor: medo x coragem, tristeza x alegria, ódio x amor, etc., são experenciados de forma contínua, muitas vezes intensa, ou ambas simultaneamente no aparelho psíquico deste profissional , que o faz responder com ousadia ou cautela, persistência ou renúncia, que demonstra, de certo modo, pelo menos ainda uma conexão entre as realidades: a interna e a externa. Mas, quando há estímulos na psiquê não percebidos, buscar ajuda, se faz necessário.
A saúde psíquica do empreendedor durante e pós-pandemia
Ainda mais neste momento em que nos quatro cantos do planeta, estejamos atravessando desde 2019 a pandemia do COVID, vale lembrar duas características da natureza humana: “a força e a fragilidade”.
Promover uma conexão que alcance um bem-estar, uma saúde mental satisfatória ao indivíduo, não é só responsabilidade do Sistema de Saúde, Governo, Instituições Sociais, mas também de cada um. No caso do empreendedor, em cada um existe “a força e a fragilidade” e, a boa notícia é que está havendo um olhar direcionado à saúde dos empreendedores.
Devido à pandemia, em meados de junho de 2020, conforme fonte DAAS-21, foram selecionados 653 empreendedores nos estados brasileiros, exceto em Rondônia, e colheram dados que chamaram a atenção quanto à saúde mental destes profissionais.
Nas pesquisas foram apontadas a incidência dos sintomas de ansiedade, de depressão e do uso de ansiolíticos e antidepressivos nos empreendedores, que se equiparam aos profissionais de saúde. Do total dos entrevistados (Homens e Mulheres), 24,9% dos empreendedores tiveram sua vida afetada; 15,0% faziam uso de ansiolíticos e antidepressivos; e quanto ao sintoma de ansiedade: as Mulheres atingiram 28,5% e os Homens apresentaram 22,5%; já a depressão as mulheres chegaram ao total de 10,4% e os homens 3,4% tiveram diagnóstico do sintoma.
Entre os entrevistados 45,5% empreendedores afirmaram que aumentaram as incertezas no ambiente dos negócios; 47,9% apresentaram que possuem capacidade parcial para lidar no ambiente pandêmico; 72,9% sofreram um declínio no rendimento familiar após início das medidas de distanciamento social e, 29,2% dos participantes enfrentaram uma retração que chegaram a uma queda de 50% do rendimento nos negócios.
Deixar de empreender ou cuidar da mente empreendedora?
Se por um lado a pesquisa apresentou os sintomas como um dado inquietante, nem por isso o empreendedorismo deixou de ser um seguimento promissor, ainda mais que o mundo no momento atual está passando da fase de pandemia para uma endemia do COVID.
O empreendedorismo ainda é uma atividade econômica que está em constante expansão, assim como a vida.
No Brasil por exemplo, segundo pesquisa realizada pelo Sebrae, IBPQ e GEM, houve um crescimento de 75% da taxa de empreendedorismo potencial entre 2019 e 2020.
Enfim, a possibilidade de desenvolver a capacidade de organização na vida mental do indivíduo, fortalecendo-o interiormente, fazendo fluir sua criatividade, habilidade, resiliência, etc., inclusive diante de situações perturbadoras na vida, é o trabalho que ocorre no processo psicanalítico.
Polo e Mauá viveram em outra época e procuraram resolver da forma que conseguiram, mas como houve o advento da roda na humanidade, a qual facilitou o meio de transporte de carga, também diante da análise do inconsciente, as crises, as situações que trazem um peso e angústia poderão tornar-se uma alavanca propulsora na vida do empreendedor.
Temas que abarcam a saúde psíquica do empreendedor e outras questões relacionadas ao mundo dos negócios são frequentes nas atividades em grupo gratuitas realizadas pelo IBCP. Fique atento à Agenda em nosso site e venha participar!